Parto das Cadelas

Estas constatações anatômicas devem ser avaliadas criteriosamente pelo veterinário por ocasião do pré-natal . Devemos nós, tanto profissionais veterinários quanto os próprios criadores e proprietários de animais, interpretarmos esses fenômenos naturais, como o são a própria concepção, gestação e parto, como uma sucessão de acontecimentos interligados a própria vida, que na natureza acontecem muitas vezes sequer sem nosso conhecimento e participação. Já os animais criados no ambiente doméstico, e por isso sujeitos à nossa nociva influência sob o ponto de vista natural, muitas vezes é a causa dos problemas que podem ocorrer em seu transcurso, embora nossa intenção seja a melhor possível.
Por isso, a recomendação que devo lhe fazer aos proprietários de cães ou criadores, é que não alterem a rotina que vinham mantendo com seus animais agora gestantes, unicamente pelo fato de encontrarem-se agora nesse estado. Deixe-as continuar sua rotina diária, inclusive com exercícios como o são o de andar, correr e mesmo pular. Apenas a alimentação dos animais gestantes merece especial cuidado: continuar sendo dada a ração que a mesma está acostumada, porém, agora fracionada em mais vezes por dia, e aumentando (sem exagero), paulatinamente a quantidade total do dia, devido o fato da gestante para bem gerar seus futuros filhos necessitar de maior quantidade de nutrientes, e de boa qualidade. Caso as vacinas contra: Cinomose-Hepatite-Leptospirose-Parvovirose e Coronavirose tenham sido ministradas há mais de um ano, faz-se necessária sua repetição pelo menos até 30 dias antes da data prevista para o parto. Quando o momento para o parto estiver próximo, e será facilmente visível pelo próprio aumento de volume da fêmea gestante, além de concomitante desenvolvimento das mamas e mesmo estado geral de engorda do próprio animal, será notado que seu andar fica diferente: mais lento e cuidadoso além dela mesma se tornar mais sonolenta e preguiçosa. Agora chegado o momento realmente do parto, a fêmea demonstrará inquietação, micções freqüentes, procurando lugares mais calmos e mesmo escuros, muitas vezes carregando para onde estiver roupas que tenha a seu alcance como se estivesse fazendo o próprio ninho para suas crias.
No próprio dia do parto, em geral a gestante rejeita a alimentação, não chegando sequer a cheirar o próprio alimento que lhe seja servido. Já água a mesma procurará insistentemente. Chegada a hora, serão notados movimentos abdominais semelhantes aqueles que a própria fêmea executa para evacuar, movimentos esses com pouca freqüência e distanciados uns dos outros, que a medida que o tempo passa, vão se repetindo com menor intervalo de tempo, até a sucederem-se quase que em seguida uns dos outros. Deverá aparecer pela abertura da vagina, que estará simultaneamente aumentada de volume e congesta, um corrimento seroso resultante da ruptura da chamada bolsa das águas, ou mesmo o aparecimento dessa bolsa pela abertura natural. Nesse caso, com uma tesoura, deverá tal bolsa ser rompida com um ligeiro talho, escorrendo então essa secreção natural. Logo em seguida deverá aparecer o primeiro feto, tanto faz que sua apresentação seja anterior (com a cabeça em primeiro lugar), ou posterior (com as pernas traseiras em primeiro lugar), e logo em seguida sua expulsão com uma contração mais forte executada cadela. Em seguida ao feto sairá a placenta correspondente, tendo o cordão umbilical ligado ao umbigo do feto. Em geral a própria cadela, com os dentes, rompe esse cordão umbilical, e caso isso não for feito pela parturiente, deverá quem estiver assistindo ao parto, assim proceder com uma tesoura previamente desinfetada, conservando apenas cerca de 2 a 3 cm desse cordão umbilical. Em seguida, também proceder a ligadura desse cordão, com um fio de linha grossa, distante cerca de um centímetro do ventre do filhote. Desinfeção do chamado coto (ou seja o pedaço de cordão umbilical) conservado, com tintura de Iodo ou Mertiolate também é recomendável.
Entre o início das contrações abdominais até o término do parto, com a expulsão de todos os filhotes gerados, muitas vezes transcorrem até uma ou mais horas, o que não deve ser motivo de aflição de quem estiver assistindo ao parto. Desde que o estado da cadela parturiente seja normal, não há necessidade de maior cuidado: apenas vigilância para auxílio, caso necessário. Apenas na hipótese de serem influtíferas as contrações, sem o aparecimento de nenhum feto pela abertura natural da cadela, será razão para procura do profissional competente para as medidas que se fizerem necessárias, porém, isso seria exceção a regra. Nesse caso então, o tocólogo: como é chamado o veterinário parteiro, é quem deve decidir o que deve ser feito. Um abraço e felicidades a futura mamãe. Carmello Liberato Thadei (Médico Veterinário - CRMV-SP-0442)
P.S. - Apenas como observação final: As placentas que acompanham os respectivos fetos recém nascidos, muitas vezes são comidas pela própria fêmea parturiente. Tal fato, embora à muitas pessoas possa causar nojo, é um fato perfeitamente natural, não devendo ser por nós evitado, pois irá auxiliar a chamada descida do leite da parturiente, necessário a alimentação de sua ninhada.

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